Enquanto voluntária do ICMBio, tive o privilégio de participar de algumas palestras do Projeto Tamar sobre as espécies invasoras em Unidades de Conservação, em ilhas oceânicas e principalmente em Fernando de Noronha.
Espécies invasoras, como gatos, ratos e tejús são ameaças à biodiversidade biológica, são seres que modificam os hábitos de outras espécies locais, por isso a preocupação. Pra você entende melhor, temos em Fernando de Noronha as espécies endêmicas ou nativas e as espécies invasoras. As espécies endêmicas são espécies animais ou vegetais que ocorrem naturalmente em um local. As famosas mabuyas por exemplo, que merecem outro post, são nativas (locais) e endêmicas, porque não existe nenhuma outra parte do planeta que elas habitam.
Já as espécies invasoras são espécies que não ocorrem naturalmente no local, mas que foram levadas, introduzidas do novo ambiente, e se proliferam sem controle, passando a apresentar uma grande ameaça às espécies endêmicas, e consequentemente causando um desequilíbrio em todo o ecossistema que a ilha a todo custo tenta preservar.
Entendido isso, vamos falar dos gatos, os gatos são e continuam sendo uma grande ameaça aos seres nativos (e endêmicos) de Fernando de Noronha. Não foram poucas as vezes que vimos gatos com mabuyas na boca, que num gesto fofo de carinho, largam metade do animal já morto e mastigado pra você como um presente, como uma retribuição ao carinho que você deu. E embora o gesto seja lindo, isso implica muita coisa.
Numa destas palestras, vários voluntários veterinários ou não, se mostraram dispostos a iniciar um procedimento de castração nestes gatos. Desta maneira, mesmo que a longo prazo, seria possível pelo menos estagnar o crescimento de uma população maior, começando um pequeno fio de esperança de qualquer controle.
No entanto, não basta boa vontade. Para castrar esses animais, é preciso alguns materiais, como os instrumentos para caçá-los e para fazer marcação nos que já foram castrados. E infelizmente, hoje em dia, não é do interesse (ou pelo menos a prioridade) da Administração da ilha custear isso.
Estima-se que em Fernando de Noronha existam inclusive os “gatos ferais”, que nasceram e cresceram de forma selvagem, são gatos que vivem por aí na mata do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, onde muitos nunca viram humanos, são bravos, como o próprio nome já diz, são feras…
Então iniciar uma campanha desse nível envolve muito empenho e custo, talvez por isso ainda não virou uma prioridade.
Nessas reuniões cogitou-se também a legalização do abate ou da eutanásia para casos como estes, mas rapidamente foi descartada, afinal de contas, se o principal objetivo da ilha é preservar sua fauna, não faria sentido começar qualquer discussão nesse sentido.
Nesta época, o Bruno Gagliasso (que já frequentava a ilha e estava disposto a colaborar com sua fama em alguma causa desse tipo), não só colaborou com a doação de coleiras e rações, mas lançou uma ideia: “Ao invés de levar uma concha de Fernando de Noronha de lembrança, leve um gato”. As companhias aéreas Gol e a Azul também passaram a não cobrar pelo adicional da “gaiolas”aos que queriam levar os animaizinhos daqui.
Enfim, algumas ações foram feitas, mas segundo o próprio estudo do pessoal que palestrava, se a castração dos gatos se iniciasse hoje, a população de gatos levaria 08 anos pra estagnar, porque mesmo durante a castração, os que ainda não foram castrados continuam se reproduzindo até o último ser caçado.
E são por estes motivos citados acima, que a situação passou a ser um problema, já que os gatos se reproduzem rápido e caçam as mabuyas que são endêmicas.
O Projeto Tamar tem profissionais há anos protegendo as tartarugas da extinção há 35 anos e da mesma forma, um teju-açú (espécie também invasora) cava os seus ninhos e devora os ovos como se não houvesse amanhã. Algumas espécies de pássaros que faziam seus ninhos no chão, como os rabos de junco por exemplo, também mudaram seus hábitos e passaram a fazer em lugares altos pra fugir desses predadores.
Sendo tudo isso uma ameaça enorme, vou terminar o texto da mesma forma que terminava a palestra: então o que faremos? Deem ideias, a ilha precisa de ideias pra lidar com isso.